“Não espere que o impossível aconteça, se nem o possível você é capaz de fazer acontecer!” (A.S. 2015)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Vida sem ética dá mais trabalho ...

A vida sem ética deve ser evitada, não porque como dizem os moralistas, o que não é um problema pensar assim, “Porque Deus me Vê”, mas porque na vida dá muito trabalho não ter ética. Tenho um amigo que trai a esposa, e ele me diz, que ele tem que ter um cuidado com o Whats, porque tudo aquilo que vai para nuvem chove em algum lugar, tem que apagar da memória RAM, ou seja, tem que ter um domínio de hacker para conseguir eliminar, porque uma mensagem no Whats é igual Herpes ela volta, você não sabe mais volta. Este mesmo amigo me disse, quando ele vai no motel leva mexerica, pois tem um cheiro de sabonete no motel e a mexerica tira tudo, então ele tem que comprar a mexerica antes de ir para o motel, ai eu fiz a seguinte pergunta: “Não de menos trabalho ser fiel, comprar mexerica antes de ir no motel, cuidar do Whats, da memória ou casar de vez com a amante, que é para acabar com o sexo”. Porque a única coisa que acaba com o sexo é o casamento. Então a vida sem ética dá muito trabalho. É preciso ter uma memória enorme. Quando um guarda me para no trânsito que é escasso, pois disse um aluno meu que só param gente jovem, eu desço do carro tranquilo pois os documentos do carro estão em dia, inclusive eu guardei o extintor de incêndio, vá que, vá que ele volte, eu tenho ainda meu kit primeiros socorros eu nunca sei quando ele vai voltar. Então eu desço tranquilo para ter contato com o guarda porque está tudo em ordem, aliás sou obcecado com datas de validade, da menos trabalho ir ao poupa tempo da lapa (São Paulo) que ficar fugindo de blitz, desviando, indo para cá e pra lá, vai no poupa tempo e faz sua carteira é muito fácil. Mas as pessoas ficam perdendo tempo, é o que eu digo para os alunos que colam, ficam horas e horas preparando a cola, dava tempo para ter estudado. A junção da tradição moral que formou o ocidente, com a reflexão ética sugerida pela filosofia, que formam o caráter bom o mau das pessoas, torna aquilo que Luc Ferry em um livro chama de vida valida, Baumann ainda utilizando seu conceito anterior a 1985 chama de ética pós moderna, esse pequeno livro que foi traduzido faz essa reflexão importante, Como ser ético em um mundo que ser ético é igual a ser um babaca? Como ser honesto em um mundo onde desonestidade leva longe na careira política? Como defender valores nesse mundo? Baumann, responde algumas dessas questões que eu recomendo aos senhores. Encaminhado para uma conclusão, temos que pensar que vivemos hoje em outubro de 2015 em naufrágio ético, os poderes públicos disputam de tal forma, que vocês devem lembrar caindo a Presidente ou vice, quem assume é o Cunha, olhem nossa situação. Se vocês não gostarem de belzebus, satanás estará esperando. Eu recomendaria com lição de casa que vocês estudassem a biografia do Vice-Presidente da Câmara (Waldir Maranhão), que é a opção que vem depois do Cunha, para quem quiser se sentir deprimido mesmo hoje, estudem isso. As pessoas protestavam pela falta de ética colocando a camisa da CBF e da FIFA e iam para paulista, duas instituições afogadas na falta ética, e finalmente o mundo empresarial, até de forma positiva é inédito no Brasil, nós paramos de falar da corrupção passiva que é a do político, e passamos a tratar da corrupção ativa que é a do empresário. Isto é muito importante, começamos a perceber o outro elo, o indivíduo e a sociedade agora podem ver com clareza essa ambiguidade. Lembrando aos senhores o que eu aprendi em Brasília dando essa palestra; Se nós temos denúncias brutais sobre a Petrobrás, a Petrobras em Setembro 2015 bateu o recorde de produção de barris de petróleo no Brasil, 2.4 Milhões de barris por dia. O que significa isso? Que a maioria da Petrobras é formada de trabalhadores como nós, dando um esforço titânico em plataformas isoladas no mundo, para que nós tenhamos chegado nesse número assombroso, ou seja, que nós ficamos olhando para as diretorias e esquecemos que aqui nessa sala e em todas salas o Brasil continua existindo, porque a maioria dos brasileiros é honesta, paga seus impostos, tenta evitar multas, quando leva multa pagas suas multas e vive sua vida em torno de trabalho, família e valores éticos. E é bem isso que esquecemos, pois passamos a confundir o estado com a sociedade, nós esquecemos desse detalhe. Sérgio Buarque, trabalhou com a ideia de homem cordial, significando que o brasileiro funciona do ponto de vista, muito passional ou muito emotivo, e eu vou buscar em uma raiz um tema que é a carta de “Pera Vaz de Caminha”. Caminha escreveu o primeiro documento sobre o Brasil e ao final da carta, e diz que: “A terra foi descoberta, das suas características ... “ e diz o seguinte, ele pede ao rei que mande vir da ilha de São Tome, Jorge de Osório meu genro, ele está pedindo ao rei um emprego, para um familiar. Não é corrupção, pois no antigo regime não há concurso público, não está infringindo uma regra, a única forma de ser contratado é a indicação real, mas o Brasil começa com essa relação pessoal. “Professor o senhor vai tirar minha prova, achei que erramos amigos!” E eu respondo: “amigos sim, cumplices não”. Quer dizer que minha ética não depende de minha relação afetiva com você, depende de regras morais. Muitas vezes ouço, achei que o senhor gostasse de mim, respondo, eu gosto de você mais odeio deslize ético. É uma pergunta muito comum no Brasil e para piorar, isso é muito importante termos claro, nós somos o país que manteve por 388 anos dos nossos 515 anos a barbárie da escravidão. O que isso significa? Em primeiro lugar que o campo do trabalho, foi contaminado pela noção que trabalho é coisa de escravo, até hoje quando se sai para dar aula, alguém canta na sala dos professores “LeLe Lele LeLeLe”. A música da Isaura, quem não lembra anota que é importante. O fato de que uma parte da sociedade brasileira e portuguesa se acho no direito de trazer seres humanos a força, através de uma fatal na África, e submetê-los a um serviço não remunerado e aviltante, destruição do valor humano, no início do século XIX. “Os Porquês” dos operários do Brasil começaram a ganhar os direitos 1930 e a domésticas ganharam o dever pleno em 2015, fundo de garantia foi aprovado esse ano. É a sobrevivência da barbárie da escravidão, é a sobrevivência da ideia denunciada de forma suave em filmes, com em “Que horas ela volta” (Com a Regina Case). Denunciada essa desigualdade e desumanidade, que nos tanto formamos essa herança barbara. Se um ser branco for as compras ou ao passeio, com outros dois seres humanos carregando, um levando o lanche atrás para uma senhora e outro um guarda-chuva, essa foi muita ideia que marco as relações de trabalho pela falta de ética. Então nós temos que superar uma herança especifica do Brasil, que é a herança da escravidão, que é a ideia que possa ver os seres humanos como inferiores, que possa ver seres humanos pelos quais devo fazer luto e outros pelos quais não preciso fazer luto. Que uma chacina em Osasco não tenha o peso de uma chacina que ocorrera no Oscar Freire. Nos continuamos contaminados por essa barbárie, esse é um dos defeitos éticos brasileiros, um dos mais graves, nos selecionamos quais os seres humanos, pelos quais eu devo fazer luto e pelos quais não, isso tem a ver com essa tradição. Para piorar, é muito difícil eu trabalhar em um país que segundo, tanto D’Matta quando Richard Mors, nós afastamos o SIGNIFICADO do SIGNIFICANTE na fala, em outras palavras, onde a pessoa que me diz: “Eu vou estar chegando tipo umas nove”, seja qualquer coisa entre nove e a segunda vinda de Jesus Cristo para a terra, ou seja, que eu não tenho a menor ideia a esse respeito.  O fato que nossa fala não contem a ação concreta, quem pode fazer esse relatório? Ela, não contêm a ação concreta é uma grande questão. É o problema eterno, o mais grave, aquele que nós mais devíamos deter, é o duplo discurso de exigência de ética absoluta para os outros, especialmente para os governantes que é correto, mas uma frouxidão absoluta com a cobrança de minha ética. Logo, a ética dos outros é uma ética duríssima, a minha ética, é uma ética frouxa. Quando eu começar a pensar objetivamente, que é muito grave talvez a coisa mais grave, alguém desviar dinheiro público para benefício privado, é menos grave, mais continua sendo grave, que estacionar na vaga de idoso ou de cadeirante, é menos grave, prejudica menos gente, mas continua sendo um deslize ético. É muito grave furar a fila, é muito grave comprar carteira de estudante para ter direito a meia entrada, é muito grave fazer essas coisas. Não é a coisa mais grave do mundo. A podridão política tira dinheiro da merenda para comprar apartamento em Miami, isso é o limite da barbárie. Porque ser ético? Porque seguir a ética? Porque tentar ser bom? Porque implantar normas? Talvez seja mais fácil responder como nos países que a resposta foi não, a Síria de um não às essas respostas. Não quero dialogar com você, nem estabelecer contanto ético, não respeito o teu dinheiro e não existe teu direito de existência. Resultado, a população inteira da Síria está se jogando no mar, porque não é mais possível ficar em terra. Esse ponto de barbárie é a falência da ética. “Não cabe ao governo implantar o paraíso, cabe o governo evitar o inferno” (João Pereira Coutinho). Não cabe a cada um de nós implantar o paraíso no mundo, não é possível talvez, mas é possível imaginar que ao menos, que no pequeno universo, onde eu trabalho, na minha família, nas ruas da minha cidade quando eu dirijo, que aquele espaço seja mais ético possível, seja o mais cheio de valores, porque isso tona a vida viável, não porque tem alguém me olhando, mas porque, EU VIVO NAQUELE ESPAÇO.  E essa é a grande questão ética, o grande desafio e com esperança, eu noto nesse momento brasileiro, nós estamos em um desafio ético enorme, na chance de mudar tudo, a crise econômica tornou a ética visível. Porque em época de abundância econômica ninguém critica a falta de ética. Crimes maiores cometidas no passado foram deixadas de lado, desemprego e inflação nos tornam mais aristotélicos, farinha pouco e o pirão primeiro. Estamos mais egoístas, chegou a hora de fazermos uma transformação, que começa com cada um de nós, é essa questão que hoje me preocupa muito, que hoje me anima muito, imaginar um país grande, diverso, com mais de 200 milhões de habitantes, como pessoas muito variadas, falando a grosso modo a mesma língua, com uma certa tradição histórica, quase todo mundo aponta a mesma coisa, todos querem uma nação mais ética, todos querem um país mais justo, nós talvez, curiosamente tenhamos dado o primeiro passo nesse sentido, só quando eu lanceto o furúnculo a primeira reação não é agradável, eu estou colocando décadas de falta de discurso ético para fora, se isso vai ser uma grande transformação é uma resposta que está agora, daqui para diante, nas mãos de cada um de nós eleitores, cidadãos, servidores públicos.

Palestra proferida por Leandro Karnal durante 4º Congresso sobre gestão de pessoas no setor público paulista.

2 comentários: